quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Vento Noturno

Ricardo batia a cabeça na parede, pois estava começando a lembrar, e lembrar era o pior que podia 

Os olhos da moça agora eram mais negros que a noite. Um negro podre, um negrume mórbido e diabólico.
- Meu amor, o que aconteceu? Sussurrou Ricardo.
A mulher sorriu, um sorriso insano, e então da sua boca saíram as seguintes palavras, com uma voz grave, que fez os pelos da nuca de Ricardo se arrepiarem.
- Seu amor? haha, então me ame!
O homem foi agarrado, e o que a nova Amanda fez não foi simplesmente beija-lo e abraça-lo, mas sim arrancar um pedaço de seus lábios e quebrar as unhas nas costas de Ricardo com um poderoso arranhão.
Ele gritou alto, gritou de dor e pavor.
O rapaz foi atirado mais uma vez no chão. Não entendia o que estava acontecendo. Na cama a mulher ria e tremia, como se estivesse tendo uma convulsão. Uma espuma amarela saia da boca de Amanda que se contorcia em dores e sussurrava palavras desconhecidas.
Mas ai ela ficou quieta, paralisada, parecia que o pesadelo havia enfim acabado.
Ricardo estava com medo, tudo aquilo já servirá para chocar ele. O homem pediu para Deus que tudo fosse apenas um pesadelo. Não podia ser real! Ele ali no quarto escuro, cheio de dores, com a boca toda ensanguentada e sua mulher na cama se comportando daquela estranha maneira.
- Deus não vai te ouvir homem! Gritou o demônio ainda deitado.
Ricardo no desespero começou a rezar e então o monstro se sentou na cama, lhe fitou e começou a xinga-lo, disse coisas horríveis, palavras imundas e antes que o homem terminasse a oração do Pai-nosso, a entidade pulou em sua direção e com uma mordida lhe arrancou uma das orelhas.
O ataque foi bruto e Ricardo gemeu de dor.
- Quem diria que a noite seria tão divertida. Disse o monstro com a voz mais grave que um trovão.
Ricardo não conseguia mais enxergar sua mulher naquele corpo, tudo era estranho, não havia nada que lembrasse Amanda.
- Vou acabar com a vida dessa vadiazinha e de bônus deixarei essa grande lembrança para você, seu fraco! Saiba que eu vim com o vento, saiba que eu estou em todo o lugar! Bradava a entidade rindo.
A mulher então começou a se bater, arrancava cabelos, arranhava-se, fazia tudo isso na frente do pobre marido. Ela mordeu várias partes de seus braços e em um determinado momento o demônio fez com que ela colocasse as duas mãos na boca e começasse a rasgar sua própria mandíbula.
Ricardo não aguentava ver tudo aquilo.
Amanda estava podre, o homem nunca tinha visto um corpo tão destruído. Eram feridas e pus escorrendo por todos os cantos, se misturando com sangue e fazendo o quarto inteiro feder carniça.
O monstro se aproximou de Ricardo e com a boca toda estraçalhada lhe deu um beijo. Depois segurou na cabeça do mesmo e começou a soca-la no chão.
O demônio bateu a cara do homem no piso do quarto, bateu várias vezes, até o rapaz desmaiar.

Fazia muito tempo que Pazuzu não se divertia tanto. O lendário demônio do vento, antes de abandonar o fodido corpo da mulher ainda fez questão de quebrar os braços do homem, depois caminhou até a janela por onde havia entrado e se atirou junto com a acabada moça.
Na queda de mais de vinte metros, Pazuzu abandonou o corpo da garota e seguiu livre junto com o vento noturno, a procura de outro lugar para se divertir, a procura de outra janela aberta.

Ricardo demorou para se recuperar fisicamente, foram messes no hospital, devido á grande fratura nos dois braços. Mesmo com o passar do tempo, ele não conseguiu voltar a ter totalmente os movimentos dos membros superiores. Além de ter ficado com duas grandes deformações: uma orelha arrancada e a ausência de um pequeno pedaço de seus lábios.
Depois da tragédia que acabou com sua vida, Ricardo não conseguiu levar uma vida normal, ele relatou as autoridades e a diversos especialistas a causa da morte da esposa e dos estragos que ocorreram com ele e com a falecida e mesmo assim, acabou sendo taxado como doente mental, sendo internado logo depois que deixou o hospital, em um velho hospício da capital Paranaense.
A tragédia do apartamento 26 foi arquivado pela polícia do estado e é mais um dos casos que as autoridades ficaram sem achar a solução.

O enfermeiro Borges ouviu os gritos, só podia ser o paciente do quarto 111, o louco aleijado que não conseguia dormir sem os remédios e que ainda por cima, tinha medo do vento.
Borges sabia que agora fechar as janelas não bastaria para acalmar o maluco. O enfermeiro pegou alguns remédios, preparou a seringa e foi fazer seu trabalho, em poucos minutos o silêncio retornaria.
Ricardo ficaria dopado e dormiria, do mesmo modo que todos os outros loucos.
Ao chegar na cela onde estava Ricardo, Borges viu o pobre homem chorando e sangrando, agarrado as grades da porta. O doente encarou o enfermeiro e disse:
- O demônio vêm pela janela, nunca se esqueça de fechar a maldita janela!
Um calafrio percorreu a espinha de Borges, por algum motivo, aquela noite parecia mais fria do que o normal.

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